terça-feira, 6 de agosto de 2019

JUDAS, O OBSCURO - THOMAS HARDY (1895)


Minha edição, da Editora Abril


Eu.não.quero.esquecer.esse.livro.

Que grata surpresa, Jude! Essa foi, de longe, um das melhores leituras do meu ano e quero levar ela pra sempre na minha mente e no meu coração. Não sou absolutamente uma pessoa emocionada, mas perdi a conta da quantidade de minutos que fiquei chorando abraçada nesse livro, sem condições psicológicas de dar continuidade à leitura.

'Judas, o Obscuro' me tocou profundamente, provavelmente pela identificação que tive com o personagem. Não por acaso estabeleci um paralelo com outra personagem da literatura que tem uma identidade muito próxima a de Judas Fawley: Emma Bovary, de Flaubert. Ambos vivem em lugares que não gostariam de viver, tem sonhos e ambições acima de suas condições e capacidades e possuem uma característica de insatisfação constante (prazer, eu).




Judas é um menino pobre, órfão, de classe social irrelevante, que decide se instruir sozinho com o sonho de se mudar de Marygreen, interior onde vive com a tia, para Christminster e se tornar um acadêmico. Inspirado pelo seu professor da infância, Phillotson, Judas estuda vorazmente, aprende latim e atinge um nível de instrução maior que qualquer estudante da época.

Nesse ínterim, Judas suspende seus sonhos e se casa com Arabella, uma moça de Marygreen, medíocre, que acaba o abandonando para viver com os pais na Áustralia. Retomando o antigo objetivo, Judas se muda finalmente para Christminster e acaba conhecendo sua prima Sue, que se tornará sua grande paixão e também a sua cruz.

Sue, diferente de Arabella, é uma jovem instruída, avessa ao cristianismo, de personalidade forte, que acaba - no início mais por capricho, que por paixão - também se apaixonando por Judas. Em um primeiro momento, no entanto, os dois vivem um amor platônico, não verbalizado. Sue, por intermédio de Judas, passa a trabalhar como professora auxiliar na escola do Professor Phillotson, em Christminster, e se casa com Phillotson, mas não muito por tempo. Sue, arrependida do casamento e com o aval do marido, abandona Phillotson e vai viver com Judas. 

Ambos se divorciam e assumem essa relação proibida, não tanto pelo parentesco, mas pelo estado civil de ambos, já que o divórcio, na época, era um estigma muito forte, principalmente para as mulheres. Dessa relação, nascem dois filhos e Sue engravida do terceiro. Arabella retorna com um suposto filho - o Pequeno Pai Tempo - que abandonado pela mãe, também passa a viver com Judas e Sue. E em condição de trabalho e pobreza, a família vai levando a vida.

Sue e Judas nunca oficializaram a relação. Não é preciso dizer que Judas nunca conseguiu entrar na universidade, já que na época a universidade era elitizada, um homem sem recursos, pobre, mesmo com todo o conhecimento que Judas tinha adquirido ao longo do tempo, não tem o direito de sonhar com a vida acadêmica e, menos ainda, de se tornar professor. Qualquer semelhança com os rumos do Brasil 2019 é mera coincidência. rsrs.

Depois de se mudarem muitas vezes, dado o seu estigma de divorciados que interferia inclusive nos trabalhos de Judas, o casal retorna para Christminster em situação precária, quase mendicante. O pequeno Judas - Pequeno Pai Tempo - uma criança "velha", que sempre teve uma personalidade um pouco deprimida - se sentindo culpado pela miséria da família - mata os dois filhos do casal e se mata em seguida. Sue perde o terceiro filho ao dar à luz, encerrando o ciclo de tragédias.

Daí pra frente, Sue fica transtornada, vira uma fervorosa religiosa e abandona Judas, voltando a casar com Phillotson, tamanha é a culpa que a sociedade é capaz de impregnar na alma humana. Sue acreditava que toda a tragédia era oriunda da ruptura de sua primeira relação e do envolvimento "pecaminoso" com Judas. Judas, embriagado e ludibriado, acaba em uma noite de bebedeira retomando também seu casamento com Arabella, mas imediatamente fica debilitado e acaba definhando até a sua morte, sozinho. 

Judas morre de amor e de decepção. "Tudo isso se estragou para mim sob o peso da realidade!". Realidade dura e trágica, tão comum a quem vive na obscuridade e na pobreza. Realidade imutável, em qualquer tempo. Afinal, Judas não é senão "uma desprezível vítima desse espírito de inquietude moral e social que faz tantos desgraçados na nossa época".

Leiam, mas já aviso: esse livro dói.                               

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