sexta-feira, 25 de abril de 2014

SOB A REDOMA (2009) - STEPHEN KING


Cuidado: contém spoiler.

Eu fui apresentada a Stephen King em "Os Estranhos" e, a partir disso, decidi que uma maratona Stephen King poderia ser boa ideia. Foi aí que conheci "A Redoma" (Under the Dome), um livro de 952 páginas que, não fosse meu conhecimento prévio da boa literatura produzida pelo autor, teria me feito desistir (sim, sou covarde para tijolos literários). O fato é que, como previsto, a leitura me prendeu do início ao fim, fazendo com que eu devorasse o livro, em um mês, talvez menos, talvez mais, não sei. Por aí.

O pano de fundo é muito parecido com o que ocorre "Nos Estranhos", uma cidade que fica isolada - aqui por uma redoma - e que acaba encarando os instintos humanos mais primitivos aflorados nas situações de crise. Pra mim a cena mais chocante é de uma moradora da cidade (não lembro quem, são muitos e muitos nomes) que, no clímax do livro, na "grande explosão", passa por cima de uma vizinha com um bebê no colo, e ouve o esmagamento da criança e o barulho dos ossos da mulher quebrando. Pensa apenas em se salvar. Apenas em si. Apenas. É o fogo derretendo todas as máscaras.

O roteiro é um pouco diferente, acho até que - fora o desfecho - é um pouco mais "maduro" do que acontece em "Os Estranhos". Pessoas comuns que não são induzidas e nem modificadas por nenhuma força alienígena (como nos Estranhos), mas por si mesmas. A Redoma fica menos de uma semana erguida e já, no início, é possível perceber a evolução dos personagens. A delimitação do bom e do mau fica mais extrema já nas primeiras páginas. Big Jim, o grande antagonista, se mostra implacavelmente cruel (em certa altura, fazendo uma análise sobre a necessidade de matar o próprio filho, "pelo bem da cidade"). Dale Barbara (Barbie), o protagonista, fica incrivelmente bom, sofrendo as injustiças e consequências de sua bondade.

Personagens como Linda Everett (uma medrosa policial), o marido Rusty Everett (auxiliar médico), e as Jotinhas (filhas), conferem normalidade à trama, mantendo suas honras intactas. Thurse, Brenda, Rose, Joe, Ernie, Sam, Ollie (o garoto abandonado e negligenciado pela família suicida) criam muito dos "pontos fortes" da trama, sem esquecer da dona do jornal, Julia Shumway, que é a grande parceira de Baaaarbie (como diria Júnior) e dá um toque de romance ao conto de horror, além de substituir o protagonismo de Dale Barbara quando ele é preso e fica encarcerado durante, mais ou menos, umas 300 páginas.

Júnior e Carter - do lado mau - são pra mim os personagens mais bem delineados (depois de Big Jim, claro). Júnior com sua loucura, sua necrofilia, seu tumor. Carter com sua inteligência (pra mim o mais admirável entre eles, apesar de ter sido sacaneado por Big Jim, no final). Todos são vilões indispensáveis à história e que ajudam a apimentar o circo de horror que virou Chester Mill.

Ao final, quase-todo-mundo sucumbe, seja pela falta de oxigênio (aliás, quase morri de falta de ar lendo o livro), seja pelo fogo na "grande explosão", seja pelos atentados ocorridos durante o desenrolar da trama. Algumas mortes são narradas ao extremo. Se você é daqueles que realmente se coloca no lugar das pessoas e vive a história enquanto está lendo, em algumas situações dá até pra se emocionar.

O final é que é totalmente sem noção - mas isso não me surpreendeu, já que achei o final de "Os Estranhos" sem pé nem cabeça também. Ambos envolvem poderes alienígenas, mas no caso da Redoma são crianças alienígenas com cabeças de couro (me poupe, King.. rsrs). O legal foi a analogia com as formigas. Para as crianças alienígenas (rsrsrs, sorry, é cômico) o pessoal de Chester Mill se comparava a "formigas". Logo, tratavam os humanos, como nós tratamos as formigas (me fez lembrar uma plaquinha do templo budista em Três Coroas, que diz "não pise nas formigas"). No livro as crianças-cabecinhas-de-couro estavam brincando, "colocando lentes de aumento e queimando" o pessoal de Chester Mill. Mais ou menos assim. Depois de Julia implorar, "nos deixe com nossa vidinha, please", a redoma é erguida. Acho que no final sobram, o que?, talvez 30 sobreviventes. Todos os antagonistas morrem.

A moral, no entanto, é bem interessante e na minha opinião muito psicológica. Até que ponto nós iríamos em uma situação extrema?. O livro cria uma metáfora interessante, que produz uma reflexão profunda. Qual é a parte da nossa personalidade que se desenvolveria? Seríamos os antagonistas ou os protagonistas? Assim, debaixo do céu aberto, e com muito oxigênio disponível, não me habilito a responder.

**

A SÉRIE: Comecei a assistir o seriado e não to conseguindo evoluir porque cometi o ACERTO de ler o livro antes de assistir a adaptação. Entendo que é uma adaptação. Gosto de muitas. E não me oponho a alterações no curso da história para ficar **televisivamente** mais interessante. BUT, no caso de Under The Dome, achei que eles descaracterizaram não os fatos, mas a essência e o caráter de alguns personagens (ao menos até o momento que eu vi, segundo episódio da primeira temporada).

O Barbie, por exemplo. Começa a série com o Barbie enterrando um corpo. WTF? O Barbie do livro é genuinamente bom - apesar de ter sido um pouco cruel no Iraque, quando soldado - e nunca matou ninguém em Chester Mill. Never!

A criatura que Dale Barbara está enterrando na série vem a ser o marido de Júlia. No livro Júlia não tem marido. Acho que esse "acréscimo", além de deturpar o caráter do Baaaarbie (me apeguei ao jeitinho do Junior chamar ele), destrói completamente o relacionamento dos dois. Péssimo.

E o Rusty? Único projeto de médico depois que o "médico de verdade" da cidade morre (esqueci o nome da criatura), ao menos até o Thurson chegar. Na série ele fica do lado de fora da Redoma. E Linda Everett, sua medrosa esposa, fica dentro, como no livro. Mas é Rusty que traz Linda à realidade quando Barbara é preso. É ele que desperta nela a consciência. É Rusty um dos grandes protagonistas da Redoma. Como que foram deixar essa pessoa do lado de fora? Não entendo.

Enfim, a parte boa é essa ó:



O Barbie da série é mais gato que eu imaginava. Único ponto positivo do seriado, por enquanto. rsrs.

11 comentários:

  1. Acabei de ler o livro agora e fiquei com uma dúvida. No final do livro está escrito "22 de novembro de 2007 - 14 de março de 2009". Não entendi se essa data tem haver com a história, como se foi dois anos que se passaram ou o S. King levou esse tempo para escrever.
    Agradeço o tempo e ótimo texto.

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    1. A minha versão do livro tem uma nota do autor em que o King explicita que esse foi o período de escrita do após ter desistido do projeto em 76.

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  2. O livro é ótimo, já a série de TV, que lástima...

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    1. Não consegui assistir a série até o fim, mas tá no projeto. Quando a adaptação se distancia muito da obra original, me tira um pouco a empolgação de assistir.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Eu queria saber se o Barbie e a Julia ficam juntos no final do livro!?

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    1. Não é algo que o livro dê muita ênfase (eles não se casam ou decidem ficar juntos, nada assim) - mas na cena final do livro os dois estão andando de mãos dadas. Então, sim :)

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  5. Eu ouvi o audiobook do livro, amei. Só achei q Big Mim, merecia outro final.

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  6. Depois dessa nem vou ver a série, o livro e ótimo , tirando os alienígenas rs

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    1. Sim, e não basta ser alienígenas né? Tem que ser alienígenas-kids COM CABEÇAS DE COURO hahaha King ama terminar os livros com os piores plot twists da história kkkkk mas mesmo assim o livro vale a pena demais!

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