"O amor é sexualmente transmissível"
Refletindo sobre gostos, cores e amores, pensei sinceramente na minha relação com a arte, especialmente cinema, pintura e literatura. Em geral, tento ser leal ao que eu sinto: se eu gosto de algo, gosto porque é genuíno, por me provocar emoção, como aquela sensação de estar caindo de um edifício de dez andares (podemos chamar de paixão?). Por outro lado, se não me emociona, não gosto e ponto. Pode ser o livro do século, o filme mais cult, a pintura mais famosa, a leitura mais intelectual do universo. Odeio, mas odeio mesmo, sem medo de ser feliz.
Nesse termômetro de sentimentos, acho que posso dizer que esse livro me emocionou, embora de uma maneira não muito profunda. Bem, um pouco se deve ao meu gosto pessoal. Não sou a pessoa mais apaixonada por romances e a sensualidade na literatura me perturba um pouco (oi terapia?) e, vamos combinar, esse livro é puro romance e sensualidade.
Nesse termômetro de sentimentos, acho que posso dizer que esse livro me emocionou, embora de uma maneira não muito profunda. Bem, um pouco se deve ao meu gosto pessoal. Não sou a pessoa mais apaixonada por romances e a sensualidade na literatura me perturba um pouco (oi terapia?) e, vamos combinar, esse livro é puro romance e sensualidade.
A cada página fui me aprofundando na história, ambientada no garimpo do Pará, de Cauby (esse nome rsrs) e de Lavínia/Shirley/Lúcia, a mulher casada, ex-prostituta, de múltiplas personalidades, que fez um fotógrafo paulista ficar perdidamente apaixonado, a ponto de perder a cabeça e de colocar em risco a própria vida. Ah, o amor...
Penso que a essência do livro é essa: o desconforto. Marçal nos apresenta um amor impuro, controverso, fatal. Um amor que não nos faz suspirar, mas que nos angustia. Nossa concepção sobre o amor vai sendo sacudida e transformada a cada página, na história de Cauby e Lavínia, nas palavras do fictício psicanalista Schainberg, na passividade do pastor Ernani, o marido traído, que oferece o contraponto, mostrando que o amor também pode ser submisso, quase incondicional.
[Spoiler] E por fim, depois do romance, da traição, da morte de Ernani pelo pessoal da mineradora, depois da internação de Lavínia em um hospício e da sua transformação na esquecida Lúcia. Depois de Cauby, enquanto suspeito da morte de Ernani, sofrer um linchamento, de ter a sua casa incendiada, de se mudar para a pensão da Dona Jane. Mesmo depois de tudo isso, é interessante ver como o amor se transforma.
Marçal nos convida a assistir o amor que recomeça do zero, com novas nuances. Um amor - que já foi tóxico, degradante - e que se torna paciente e prestativo. É como se a tragédia o tivesse purificado. A dor e o poder de acalmar o amor. E curioso: essa calmaria só chega quando Cauby passa a querer, finalmente, o que pode ter. Afinal, a nossa "ração de poeira das estrelas" talvez seja saudável, como afirma Schianberg, mas fica claro que não pode durar pra sempre.
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