Dark é a primeira produção original alemã da Netflix e foi criada por Baran Bo Odar, diretor da maioria dos episódios e Jantje Friese, roteirista da série. Só o idioma dos personagens - alemão, óbvio - já é suficiente para garantir uma pegada alternativa para a produção - dá aquela sensação de estar assistindo uma série "lado B", diferentona, super hiper cult.
Apesar disso, é uma superprodução, e é sensacional! Além de explorar uma temática genial - viagem no tempo - de um jeito realmente original, a série traz uma profunda reflexão sobre as consequências dos nossos atos, a predestinação e a existência de Deus. É, assim, uma série de ficção científica, mas enredada em reflexões filosóficas a todo momento.
Os diálogos entre Noah (Mark Waschke) e Helge (Peter Schneider) me lembraram muito os diálogos travados por Ivan, em Irmãos Karamazov, do Dostô. É um tema muito nevrálgico, tratado de maneira tão sutil, que nem é possível perceber a polêmica por trás das palavras de Noah.
E toda a série vai assim, refletindo sobre nossas escolhas, o quanto elas influenciam no nosso futuro e o quanto as escolhas do futuro influenciariam no passado, se pudéssemos de fato revivê-lo.
Será que o tempo é um monstro eterno que não pode ser mudado? Faz parte da natureza humana acreditar que a vida tem um papel. Que as nossas ações podem mudar algo.
É interessante como vão se entrelaçando a vida dos principais personagens (Jonas Kahnwals - Louis Hofmann, Hannah - Maja Schone, Ulrich Nielsen - Oliver Masucci). Mas é preciso paciência: as questões aparentemente confusas em um episódio, vão sendo esclarecidas no próximo, de forma que absolutamente nada na série fica, ao final, sem resposta.
É profunda a reflexão que Dark provoca. Nós, seremos humanos, temos de fato uma tendência a superestimar a importância de nossas ações. Como agiríamos se soubéssemos que estamos predestinados? Que nenhuma de nossas ações pode mudar o que está destinado para acontecer? Que todas as nossas ações são milimetricamente planejadas por algo maior. Será que conseguiríamos conviver com o fato de sermos apenas marionetes? De não atuarmos como protagonistas da nossa própria história? Aí está uma reflexão sobre como encararíamos a constatação de que somos pequenos - ínfimos - diante do mundo.
A série me lembrou a vibe de Lost, talvez porque é cheia de flashbacks e flashforwards da vida dos personagens. Torna a série confusa em muitos momentos, mas também revela um dinamismo que faz toda a diferença e traz uma contraposição indispensável à lentidão de muitas cenas.
Fazia bastante tempo que não gostava tanto de uma série (depois surgiu La Casa de Papel e massacrou todas as outras, mas falo dela na sequência). Dark não pode passar em branco.. chega a ser injusto o frenesi que Stranger Things tem causado, porque apesar de ser também uma produção empolgante, Dark (se é possível comparar) é infinitamente mais merecedora de aplausos!
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