segunda-feira, 9 de abril de 2018

LA CASA DE PAPEL - 1ª E 2ª PARTE (2017/2018)


Há algumas semanas atrás terminei de assistir La Casa de Papel, uma série espanhola, lançada no Brasil pela Netflix em duas partes (isso mesmo, duas partes, não duas temporadas) - a série é uma adaptação de uma minissérie que passou na Espanha em quinze episódios e que, por estratégia, a poderosa Netflix decidiu dividir em duas partes. A segunda parte foi lançada recentemente, mas assim como tantos outros fãs da série, assisti em um site clandestino antes do lançamento por aqui, com resolução péssima e legenda cagada horrorosa. Eu admito, não consegui esperar desculpa Sandy 

A série acompanha um roubo à Casa de Moedas da Espanha, orquestrado por Sérgio Marquina (O Professor) e executado por oito assaltantes: Berlim, Moscou, Tóquio, Oslo, Helsinque, Nairóbi, Rio e Denver.  Todos com codinomes de cidades para evitar qualquer tipo de relacionamento interpessoal e eleitos a dedo por Marquina. Aqui já cabe pontuar um aspecto bem interessante: todos foram escolhidos pelo genial Professor, porque: 1. já tinham se envolvido em outros crimes anteriormente, alguns até bem ousados e, o mais importante; 2. não tinham mais nada a perder nessa vida.

Sérgio reúne todos em uma casa de campo, retirada da cidade por motivos óbvios, e passa a dar aulas de como cometer o roubo perfeito numa mistura de A Fazenda com Escolinha do Professor Raimundo. Já no primeiro episódio, eles invadem a Casa da Moeda e fazem os funcionários e alguns adolescentes, que estavam em visita ao local, de reféns (tudo estrategicamente pensado, pois a filha de uma autoridade política estava entre esses adolescentes, o que permitirá ao longo do crime algumas barganhas e, o mais importante e precioso para o plano, tempo).

No decorrer da série, descobrimos que a intenção do Professor não é propriamente roubar: eles querem produzir, na casa da Moeda, o próprio dinheiro. Eis outro aspecto interessantíssimo do seriado: apesar de arquitetar um dos maiores roubos da história da Espanha, o Professor tem seu código moral - ele acredita que não está cometendo um crime, pois não estão subtraindo de ninguém, já que, ao produzir o próprio dinheiro, não há tecnicamente um prejudicado (temos vários indivíduos assim na sociedade moderna, que na vida real não são soam tão românticos, mas ok...)

Acompanhamos o roubo como cena principal, a fabricação do dinheiro, o relacionamento dos assaltantes com os reféns e as relações interpessoais envolvendo o próprio bando. Suas vidas vão se descortinando pouco a pouco diante dos nossos olhos. Descobrimos que Tóquio e Denver tem um caso, que Nairóbi tem um filho, que O Professor e Berlim tem uma conexão maior do que pensávamos, e assim por diante. Vamos inevitavelmente nos apegando a cada um dos personagens (menos ao Arturito que queremos matar o tempo todo e torcemos, até o último segundo, que alguém faça isso por nós.. quem mais?).

Apesar da temática clichê, a série é simplesmente g-e-n-i-a-l. Tem personagens muito bem construídos, complexos e o mais importante: verossímeis. Os episódios, com o roubo de pano de fundo, vão muito mais além, aprofundando a vida e o drama pessoal de cada um dos personagens, criando um laço e uma empatia com o telespectador.

Há anos que uma série não tinha, pra mim, o impacto de La Casa de Papel - desde Dexter, não vejo personagens construídos com tanta sutileza (para o meu gosto, evidentemente): e há vários assim na Casa de Papel. Desde Nairóbi até Berlim, passando sem dúvida pelo próprio Professor, personagens fortes, com códigos morais bem delineados, mas ao mesmo tempo com aquela perturbação paradoxal, que nos faz questionar a todo tempo a sua saúde mental e a sua sanidade.

Eu, que amo psicopatas (confesso), me apaixonei perdidamente pela psicose do Berlim. Adoro quando a trama explora o absurdo da visão maniqueísta - os bons são ótimos, os ruins são péssimos e a vida se resume nisso nessa simplorice como dizia a vó da Vivi. Berlim é dois: é pervertido, cruel e, ao mesmo tempo, tem liderança, tem brio, tem determinação e, veremos no final, muita lealdade.

O Professor, outro personagem extremamente bem desenvolvido, tem uma visão idealista, determinada e, apesar da aparência frágil, é um homem forte, inteligente e genial. O que atrai no Professor, a meu ver, é o elemento surpresa: ele mostra, em diversos momentos, que seria capaz de tudo pra concretizar o plano que arquitetou por tanto tempo - na minha opinião, é o mais perigoso de todos os personagens de La Casa de Papel.

E Nairóbi? Nairóbi leva as feministas a loucura! É líder, honesta, leal e extremamente focada. É séria e, ao mesmo tempo, alegre, apesar dos seus dramas pessoais. É uma das personagens femininas que, para mim, foi extremamente atrativa, muito mais do que Tóquio, por exemplo, que considero meio impulsiva, infantil, caprichosa, egoísta e egocêntrica (para me linchar disque 0800..).


O relacionamento entre Denver e Mônica, uma das reféns, também ganha o protagonismo da série em muitos momentos e nos faz refletir: será Síndrome de Estocolmo mesmo ou Mônica apenas conseguiu extrair a bondade e o caráter de Denver, mesmo diante do momento turbulento e tenso que ele a colocou? Acho que nunca saberemos a resposta.

Por fim, “Bela Ciao” estará para sempre entre as canções que me remeterão a personagens apaixonantes. Sabe aquela música que produz memória afetiva? Como não ficar tomada dela (e desses dois, meu Deus):



La Casa de Papel - uma série sensacional. Um roteiro aparentemente simples com personagens profundos, complexos, construídos com maestria e inteligência. É série pra assistir uma, duas, três vezes e em cada uma delas, sentir, pensar, se colocar no lugar e descobrir um aspecto diferente, que à primeira vista não tínhamos prestado atenção.

Nem vou me dar ao trabalho de recomendar. 

Acho que estamos (todos nós) embriagados.

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