segunda-feira, 26 de março de 2018

MADAME BOVARY (2014) - SOPHIE BARTHES



Assisti mais uma adaptação de Madame Bovary, de Gustave Flaubert. A minha experiência com o livro foi dramática - na primeira tentativa o abandonei, e na segunda, mesmo indo até o fim, tive ânsias de desistir diversas vezes. 

Não que o livro seja ruim - MUITO pelo contrário. É que Flaubert tem um preciosismo estilístico que me dá nos nervos, o que o torna prolixo e, apesar da genialidade do roteiro,  por vezes cansativo. Mas não vim aqui falar do livro, e sim do filme.

O filme é muito fiel ao livro - ou ao menos tenta ser. No entanto, ao menos do meu ponto de vista (é lógico que é do meu ponto de vista, já que sou eu que estou escrevendo..rsrs), penso que o filme não captou muito bem a essência dos personagens, principalmente de Charles Bovary.

No filme, Charles (Henry Lloyd-Hughes) aparece como um homem alheio à cultura, um ser medíocre, desleixado com o casamento e sem dar muita atenção à esposa. No livro, Charles também é assim - entretanto, o traço mais importante de Charles (e que faz Emma odia-lo com todas as forças) não é só o seu caráter ordinário.  Charles, na verdade, é um paspalho, sem ambição, um loser - um verdadeiro perdedor no jogo da vida. Nada que Charles faz é acertado, Charles só joga pra perder - o que fica claro quando ele opera Hippolyte.

Emma (Mia Wasikowska) também não é retratada a contento no filme. Emma não é só volúvel e libertina como aparece na película - No livro, ela é antes de tudo uma mulher apaixonada, beirando a ingenuidade, que anseia viver um amor a altura dos romances que lê. É essa a fantasia que faz Emma cometer todos os enganos, as traições, que faz Emma perder a cabeça. É o desespero de viver uma vida romântica, de se mudar para Paris, de ostentar luxo e respirar cultura. É a ilusão de viver em um mundo de prazeres e paixões que, todo mundo sabe, não existe. Isso é o que move Emma - e no filme isso não é explorado.

Leon (Ezra Miller) também não está à altura do personagem criado por Flaubert. Não é encantador como no livro e chega a ser tedioso. Logo Leon, deslumbrado, apaixonado e cheio de juventude e vida. Olhem, gente, quem ia se apaixonar por esse Leon do filme (que nem penteia os cabelos)?


Atenção Polícia do Politicamente Correto: contém brincadeira.


O filme peca também em não mostrar os últimos momentos de Emma - que não morre imediatamente. São dias de agonia no livro (não recordo quantos) até ela sucumbir. É como se, nesse momento, Emma acertasse as contas antes de partir. É interessante desse contexto. Mas no filme a impressão que fica, na última cena, é que ela morre na hora, jogada na floresta. 

Pra não destruir o filme, tentando ressaltar os pontos positivos pro universo me devolver positividade (#gratidão) Rodolphe (Logan Marshall-Green) - no filme apenas “Marquês” - é de uma beleza estonteante e uma canalhice brutal, exatamente como eu imaginava no livro. Um sedutor.




Meu interesse nos personagens, como sempre, é predominantemente psicológico. São os traços, as características, as nuances da personalidade que me chamam atenção e me interessam - logo, é o que me despertou maior desagrado no filme. Talvez tenham outros aspectos que mereciam ser destacados, negativos e positivos, mas como minha análise, aqui, é mais intuitiva do que técnica (nada técnica, na verdade), é nisso que reside minha maior crítica.

Não gostei. De 1 a 10, não daria nota 5. Apesar do roteiro ser muito fiel, a essência, como eu disse, deixa a desejar. E isso é imperdoável. Acho que Flaubert, tão preciosista e perfeccionista, também não perdoaria.

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