Eu sempre me surpreendo com o talento do King de criar roteiros fantásticos a partir de acontecimentos absolutamente casuais. Stephen King tem uma capacidade absurda de personificar objetos inanimados, transformando-os em criaturas malignas, dotados de uma inteligência peculiar que nossos cérebros humanos e limitados não são capazes de entender.
Buick 8, foi iniciado antes de 1999, ano do conhecido acidente automobilístico de King, e finalizado em 2002 com a espantosa percepção de que o acidente principal do livro (cujo esboço já havia sido escrito antes do acidente) apresentava semelhanças com o dele próprio.
O livro conta a história de um Buick Roadmaster antigo “azul noite” que é apreendido após o motorista que o dirigia desaparecer misteriosamente no posto de gasolina.
A Polícia da Pensilvânia, onde o Buick foi encontrado, decide deposita-lo em um galpão do Departamento D, após os policiais notarem uma série de curiosidades a respeito do carro. O Buick nada se parecia com um carro “comum” e ainda apresentava um zumbido estranho, quase uma vibração que atraia as pessoas que se aproximavam dele.
O livro acompanha os Policiais narrando a história do Buick - que está depositado há 25 anos no galpão B do Departamento - a Ned Wilcox, filho de Curtis Wilcox, um patrulheiro rodoviário morto em serviço após ser atropelado em um trágico (e misterioso?) acidente automobilístico.
O leitor é apresentado em cada capítulo, junto com Ned, às histórias que envolvem o Buick e o motivo pelo qual ele é guardado pelo Departamento D há tantos anos, com controle de temperatura e vigia constante.
(Spoiler) Entre zumbidos e clarões - que mais pareciam com fogos de artifício - descobrimos que o Buick é uma força maligna que, periodicamente, aspira para o seu mundo (um mundo alienígena) coisas, animais e pessoas que estejam ao seu alcance, a exemplo de Ennis Rafferty (policial do departamento) e Brian Lippy (um arruaceiro local).
Mas não para por aí. O Buick também expira coisas do seu próprio mundo pra o nosso, como besouros, morcegos, chegando a expelir em determinado momento inclusive um ET cor de rosa (É o jeitinho King de ser lovecraftiano. kkkk)
Durante praticamente todo o tempo, o livro nos conta sobre o passado, nos entregando, em seu ápice, um pouco da poderosa força do Buick no presente, como o momento em que ele se “apodera” de Ned e *quase* o carrega, junto com o Sargento Sandy, pro seu mundo.
No meio disso, há uma série de meandros familiares, ocasião em que, muito além do terror, King explora a relação de Ned com o pai, além das relações pessoais entre os próprios policiais e suas famílias. Esses elementos são a marca registrada do King em todos os seus livros e é isso que torna ele, na minha opinião, sempre genial.
No fim das contas, não há qualquer explicação sobre o misterioso Buick. De onde exatamente ele veio? Qual é a verdadeira força por trás do Buick? Essa força alienígena é realmente do mal? É automática? É pensante? Não sabemos.
A grande lição do livro é, portanto, muito menos sobrenatural. Como explica Stephen King, Buick 8 é sobre “o que os acontecimentos da vida têm de essencialmente indecifrável e como é impossível encontrar neles um significado coerente”.
Obs: vale referir que o livro é inspirado na música From a Buick 6 de Bob Dylan e que, segundo a página oficial de fãs do King no Brasil, está sendo adaptado para o cinema. Oremos!
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